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A construção da Av. Beira-Mar afastou para sempre
o terraço do Passeio do mar |
O Passeio ganha novo fôlego
no início do século XX, principalmente durante a gestão
do prefeito Pereira Passos, quando o parque recebeu diversos
melhoramentos. Entre 1902 e 1906, a Inspetoria de Matas,
Jardins e Arborização realizou uma transformação completa
no Passeio. Na ocasião, a muralha em torno do jardim é
substituída por um gradil e os dois portões laterais de
madeira são trocados por outros de ferro. O ladrilhamento
do terraço é reformado, as moitas que cobriam os troncos
das árvores são arrancadas, é plantada uma nova grama,
são instalados chalés de latrinas e mictórios e reformadas
algumas construções. Nessa época também é instalada no
parque a escultura do Velho (). Em 1906, Pereira Passos
declara que o Passeio passou por algumas transformações
e modificações que o tornaram mais aprazível.
Em 1904, o parque perdeu a área do belvedere para a abertura
da Av.Beira-Mar, considerada a mais bela via corso
do mundo. Com a obra, 76m de terreno da Rua do Passeio
foram fechados e ajardinados. Os muros do parque também
receberam uma limpeza especial. Na face que dava para
a Av.Beira-Mar foram construídas escadarias de acesso
e os parapeitos de alvenaria foram substituídos por balaústres
de mármore, com candelabros de três a cinco lâmpadas.
Em 1904, o jornalista João do Rio protestava, na Gazeta
de Notícias, contra a destruição da praia que havia em
frente ao Passeio, chamada de banhos do Boqueirão.
A construção da Av.Beira-Mar afastaria para sempre o terraço
do Passeio da praia.
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O Aquário do Passeio funcionou até 1938 (AGCRJ)

O Aquário foi inaugurado em 1904 |
Uma das mais importantes contribuições
do período Passos para o Passeio foi a construção de um
aquário de água salgada. O projeto, idealizado por Julio
Furtado, inspetor das Matas Marítimas, teve o custo de
50 contos de réis.
A inauguração do aquário foi adiada várias vezes devido
à dificuldade de obter água compatível com os organismos
dos peixes. Por causa das impurezas, várias espécies morreram
antes da abertura do aquário, que seria finalmente inaugurado
em 17 de setembro de 1904. À cerimônia de inauguração
compareceram o presidente Rodrigues Alves e o prefeito
Pereira Passos, entre outras autoridades.
O aquário, o primeiro de água salgada da América do Sul,
era habitado por cerca de 35 diferentes espécies de peixes,
moluscos, crustáceos e quelônios. Podiam ser vistas também
plantas aquáticas, tartarugas-marinhas, um polvo, lagostas,
cavalos-marinhos, ouriços e estrelas-do-mar. A água, trocada
duas vezes por semana, era captada no mar através de uma
embarcação e em seguida filtrada e transferida para os
tanques por um tubo de borracha.
Em seus três primeiros meses de funcionamento, o aquário
foi visitado por mais de nove mil pessoas. O Prefeito
Pereira Passos declarou na época que o aquário tornaria
os jardins do Passeio mais dignos do interesse do público
e sobretudo dos estrangeiros que visitavam a cidade.
O aquário, registrado pelas lentes de Augusto Malta, possuía,
segundo Charles Dunlop, estilo oriental e era formado
por um vestíbulo, por onde entravam as pessoas, e uma
galeria de vinte tanques e piscinas. Até 1938, o aquário
foi uma das maiores atrações do Passeio e da cidade. Para
o professor Ferreira da Rosa, o Aquário era um
instrumento de ensino que o público freqüentava assiduamente
e por onde desfilava a mocidade das escolas ao familiarizar-se
com os primeiros rudimentos da História Natural. |
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O Teatro-Cassino Beira Mar foi construído no terraço
do Passeio (AGCRJ)

O Teatro-Cassino Beira Mar, demolido no governo de
Henrique Dodsworth (AGCRJ) |
Nos anos 20, o Passeio voltou
a entrar em estado de abandono. Nesta época, a realização
de um novo aterro afastou ainda mais o Passeio do mar.
O belvedere do parque, incluindo as mesas de pedra, é
demolido em 1920, durante a administração do prefeito
Carlos Sampaio. Em seu lugar foi construído o Teatro-Cassino
Beira Mar, projetado pelo arquiteto Heitor de Mello. Nessa
época também são retirados os gradis de 1862 e demolidas
as palmeiras centenárias.
No Teatro-Cassino Beira Mar, também chamado de Beira Mar
Cassino, funcionava um teatro e um cabaré. A estréia oficial
do teatro deu-se em 1926, com a peça A Sorte Grande,
de Manuel Bastos Tigre. As atrações do local variavam
de apresentações da exótica dançarina norte-americana
Josephine Baker a companhias de teatro de nomes consagrados.
Jayme Costa, por exemplo, encenou no Teatro-Cassino várias
peças, como Uma Noite em Claro, O Processo Voronoff,
Espumante para Senhoras e A Família Kollossa,
entre outras.
No Teatro-Cassino nasceram também dois importantes movimentos
do moderno teatro brasileiro. A 10 de novembro de 1927
estreava no antigo belvedere do Passeio Público a peça
Adão, Eva e outros membros da família, encenada
pela companhia Teatro de Brinquedo, liderada pelo casal
Álvaro e Eugênia Moreyra. A peça chamou a atenção pelos
cenários realizados por Di Cavalcanti e Luiz Peixoto e
por apresentar atores praticamente desconhecidos. A companhia
Teatro de Brinquedo, que introduziu no Brasil autores
como Pirandello e Cocteau, era formada por jovens oriundos
da burguesia e formou talentos como Joracy Camargo.
Também no Beira Mar Cassino nasceu a companhia Caverna
Mágica, liderada por Renato Viana, que mais tarde seria
o primeiro diretor da Escola de Teatro Martins Pena, no
Centro do Rio. Fazia parte da Caverna, um jovem ator,
que depois se destacaria como um dos maiores dramaturgos
brasileiros: Paschoal Carlos Magno. Em 1934, Viana criou,
no Cassino, o projeto Teatro-Escola, com o objetivo de
formar jovens talentos, produzir espetáculos populares
e democratizar o acesso ao teatro. A estréia do projeto
se deu com Sexo, peça lançada em 20 de outubro
de 1934, com um elenco estelar: Jayme Costa, Olga Navarro,
Delorges Caminha, Itália Fausta e Suzanna Negri, com direito
ainda à coreografia especialmente elaborada pela vedete
Eros Volúsia.
Na administração de Henrique Dodsworth (1937 - 1945) são
demolidos os prédios onde funcionava o Teatro-Cassino.
Com a demolição, o terraço do Passeio é liberado, o jardim
é restaurado e é criada a Rua Mestre Valentim, hoje incorporada
à Av.Beira Mar. Na ocasião também são realizadas obras
na Ruas do Passeio e Luís de Vasconcelos, e em toda a
área em volta do parque.
Em artigo intitulado O Passeio Público e as suas transformações,
publicado em 14 de outubro de 1937, o jornal A Noite saúda
a demolição do Cassino, chamando-o de emplastro
pretensioso e floreado em que a engenharia municipal resumira,
certa vez, a sua concepção da nova arquitetura brasileira. |
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O Passeio após
a Década de 30 |
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O espaço equivalente ao antigo belvedere do Passeio foi
recuperado em 1988

Na década de 80 uma reforma melhorou o aspecto do
jardim |
Em junho de 1938, o Passeio
Público do Rio de Janeiro é tombado pela SPHAN nas categorias
Livro Histórico e Livro de Belas Artes. Em 1946, uma inspeção
técnica realizada no parque verificou que as pirâmides
estavam revestidas por hera espessa, que se alastrava
pelos medalhões de mármore. Um dos medalhões estava quebrado,
enquanto o gradil de ferro se encontrava danificado na
parte inferior pela ação da maresia, ferrugem e urina.
A ponte de ferro imitando galhos de árvore também se achava
danificada. No ano seguinte, o Correio da Manhã, no artigo
Como vai o Passeio Público ? denunciou o estado
de abandono do parque: (...) Gramado todo ralo de grama
pisada em largos trechos e noutros em nenhum vestígio
de sua existência anterior(...) Transitar ali nos dias
de chuva é penoso sacrifício e nos dias secos
uma feira livre atrapalha-nos a caminhada. Não pode a
Prefeitura alegar que não tem pessoal
para tratar do jardim naquela face (...)
Com todas essas denúncias, o Departamento de Parques,
da Secretaria Geral de Viação e Obras da Prefeitura do
então Distrito Federal, realizou nova inspeção no jardim
e, em ofício ao presidente do SPHAN, Rodrigo Melo Franco
de Andrade, solicitou a recomposição do Chafariz dos Jacarés
e a substituição do menino de chumbo por um serafim
em mármore de Lioz, ou bronze, semelhante ao original
desaparecido. Rodrigo Melo Franco de Andrade argumentou
que não era recomendável a recomposição da fonte, pela
impossibilidade de reproduzir fielmente as peças originais
desaparecidas.
O Passeio serviu como locação para o filme A Grande
Cidade, de Cacá Diegues, com Antonio Pitanga e Anecy
Rocha no elenco. No filme, de 1966, ainda se via o busto
da deusa Diana no Chafariz dos Jacarés. Alguns anos antes,
em 1933, o Teatro-Cassino Beira Mar havia sido locação
para o documentário A Voz do Carnaval, produzido
pela Cinédia e estrelado por Carmen Miranda, Lamartine
Babo, Pablo Palitos, Jararaca & Ratinho, entre outras
estrelas da época.
O parque voltou a ser cercado por gradis um pouco antes
de 1969. Em abril de 1988, o Passeio foi reaberto após
uma longa reforma. O parque ganhou iluminação especial
e mais um portão de acesso (hoje fechado). Foram investidos
cerca de quatro milhões de cruzados na limpeza do jardim,
no plantio de novas mudas e na restauração das fontes,
bustos, estátuas e pontes. As galerias de águas pluviais
e a balaustrada em bronze também foram recuperadas. As
pirâmides ganharam retoques em toda a cantaria e gradis
mais altos foram instalados para controlar o acesso ao
parque. A reforma de 88, empreendida pelo Departamento
Geral de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de
Obras e Serviços Públicos, recuperou mil metros do parque,
que haviam sido perdido para a abertura da Av.Beira-Mar.
O espaço recuperado é equivalente ao antigo belvedere
do Passeio.
Em fevereiro de 1998, foi realizado um trabalho de limpeza
no Passeio. Em 1999, os gradis foram restaurados. |
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